segunda-feira, 4 de julho de 2011

Só o sofrimento humaniza as pessoas...


Há dois anos enquanto realizava estágio na Santa Casa de Misericórdia de Casa Branca, pude presenciar duas situações bem distintas. Na segunda semana de estágio conheci uma bebê que havia nascido prematura de seis meses, vocês não têm noção do quanto ela era frágil, ela pesava apenas 790g, tinha um pouco mais de 25 cm de comprimento e as suas mãozinhas davam o meu dedão.
Durante quatro semanas acompanhei a luta dela pela sobrevivência, a única forma de ser alimentada era por uma sonda introduzida pelo nariz, que de tão pequeno mal passava o caninho. O tempo passou, e desta vez a vida prevaleceu, a menininha ganhou peso, e quando alcançou 1.500kg recebeu alta para ser amamentada em casa pela mãe.
Já no caso de um garoto de 14 anos a vida não foi tão generosa, o garoto tinha leucemia e depois de lutar por 10 meses contra a doença, acabou falecendo.
Ainda vivo enquanto estava em tratamento, uma vez eu conversei com o pai do garoto sobre a enfermidade do filho, ele tava me contando como é a vida de uma pessoa que descobre que tem câncer. Somente uma pessoa que tem um filho nesta situação poderia descrever com tanta riqueza de detalhes como é isso. O pai disse:
- Lucas é difícil você descobrir que vai morrer, toda sua rotina é baseada como se aquele tivesse sido seu ultimo dia de vida, por que um dia, ainda que você não queira acreditar nisso, vai ser mesmo. Eu olho pro meu filho, e eu aproveito cada segundo com ele, eu fico me vigiando para escolher bem as ultimas palavras que vou dizer a ele, por que um dia eu posso voltar e não poder falar mais. Antes de deixá-lo sempre digo o quanto ele é importante pra mim, e que eu o amo demais; de repente toda sua vida fica a mercê de suas ações. Cada palavra... Cada gesto... Cada olhar.
Minha vida nunca mais foi a mesma depois daquele dia, eu fiquei pensando em tudo que ele havia me falado e como uma cicatriz, aquilo ficou gravado na minha cabeça, e se repetia com um filme.
Tudo que foge a regra natural das coisas desperta em nós grande sofrimento; por que tipo, os pais têm filhos certo? E pela regra natural da vida, filhos enterram seus pais, e não pais os seus filhos; por isso toda vez que a regra é quebrada dificilmente admitimos isso.
De toda essa experiência eu tirei o seguinte:
Está escondido bem no fundo o que as pessoas são de verdade... Nada, não somos nada, a humildade as vezes dá lugar a prepotência, arrogância,  avareza. Os sorrisos e as alegrias não encerram nada mais do que uma imagem forte do ser humano frágil que não enfrenta as próprias bestas. Essa distorção me faz questionar a felicidade verdadeira como uma guilhotina questiona os pescoços.
Já dizia Mario Quintana “A felicidade bestializa, só o sofrimento humaniza as pessoas”. Eu ainda acredito na felicidade e no amor, mas não quando eles vêm embalados pra presente.
Viva cada segundo como se você fosse morrer amanhã, e não se esqueça de agradecer ao universo por isso.

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