Há cinco anos nós iniciávamos mais um ciclo
de nossas vidas, naquele período era inimaginável estar aqui, parecíamos um
bando de crianças assustadas com os mais diferentes medos...
- Qual é mesmo o nome daquele barbudo com
charuto na mão?
- Freud?
- Isso! Ele dizia que somos feitos de carne,
mas temos que viver como se fôssemos de ferro.
Como foi difícil viver esses cinco anos vendo
toda nossa estrutura emocional sendo colocada a prova todos os dias; mas o
melhor... agora somos terapeutas.
A vida de
terapeuta é uma vida de entrega na qual transcendemos diariamente nossos
desejos pessoais e voltamos nosso olhar para as necessidades e crescimento do
outro. Obtemos prazer não apenas pelo crescimento do nosso paciente, mas também
pelo efeito da reverberação – a influência salutar que nosso paciente tem sobre
aqueles com quem eles têm contato em suas vidas. Há um privilégio extraordinário nisso. E uma satisfação
extraordinária, também.
Somos
guardiões de segredos. Todos os dias pacientes nos honram com seus segredos,
freqüentemente nunca antes compartilhados. Receber tais segredos é um
privilégio concedido a bem poucos.
Algumas
vezes os segredos me chamuscam, pulsam dentro de mim e despertam minhas
próprias memórias e impulso fugidios, há muito esquecidos. Outros, ainda, me
entristecem quando sou testemunha de toda uma vida que pode ser
desnecessariamente consumida pela vergonha e incapacidade de se perdoar.
Nós
terapeutas carregamos o fardo de segredos dolorosos de culpa por atos
cometidos, vergonha de não ter agido, anseio de ser amados e apreciados,
vulnerabilidade profunda, inseguranças e medos.
Ser um
guardião de segredo tornou-me, com o passar dos anos, mais gentil e tolerante.
Quando encontro indivíduos inflados de vaidade ou presunção, ou que se distraem
por qualquer uma de uma infinidade de paixões devoradoras, eu intuo a dor de
seus segredos profundos e não faço um juízo, mas sinto compaixão e, acima de
tudo conectividade.
De mãos
dadas com os pacientes, saboreamos o prazer das grandes descobertas - a
experiência do “arrá!” – quando fragmentos ideacionais discrepantes subitamente
deslizam suavemente, unindo-se com coerência.
Eu sempre
costumo fazer uma analogia sobre o que é ser terapeuta.
Quando um
paciente nos procura, ele traz consigo uma caixa com milhares de peças de um
gigantesco quebra cabeça, cabe a nós terapeutas a missão de organizar e ajudar
nosso paciente a montar este quebra cabeça, mas não é fácil. Quem já montou um
quebra cabeça sabe: sempre deve-se começar a montar pelas extremidades.
A cada dia
uma nova peça é encaixada e o quebra cabeça vai ganhando formas cada vez mais
claras, porém ocorre alguns sacrifícios, você vai percebendo que algumas peças
não pertencem aquele quebra cabeça, mais que isso, estão faltando algumas
peças.
Com muito
cautela e a duras penas seu paciente vai entregando as peças que estavam
sorrateiramente escondidas, e com isso o enorme quebra-cabeça que antes parecia
impossível montar, agora ganha vida; você acaba de encaixar a última peça.
É o fim?
Não!
Você olha
para a mesa e vê que as peças que sobraram fazem parte de um novo quebra
cabeça.
Let's Go
Again!? (Risos).
Por fim,
sempre considerei um privilegio extraordinário pertencer a venerável e honrada
agremiação dos que curam, e ocupam seu tempo a fim de cuidar do desespero
humano.
Hoje chega ao fim mais um ciclo de nossas
vidas; eu falei fim? Desculpe; na verdade é o início de um novo ciclo. Hoje
morrem alunos da turma de 2012 formada pela UNIP; amanhã nascem psicólogos
hospitalares, comportamentais, psicanalistas, jurídicos, fenomenológicos,
organizacionais, enfim...
Hoje é o primeiro dia do resto de nossas
vidas.
Muito obrigado a todos que fizeram parte da
minha vida nesses cinco anos, e principalmente ao mestres e doutores que não
pouparam esforços para sempre tirar o melhor que podíamos oferecer.
Sucesso em nossas carreiras!!!