terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Muito obrigado!!!

Há cinco anos nós iniciávamos mais um ciclo de nossas vidas, naquele período era inimaginável estar aqui, parecíamos um bando de crianças assustadas com os mais diferentes medos...
- Qual é mesmo o nome daquele barbudo com charuto na mão?
- Freud?
- Isso! Ele dizia que somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de ferro.
Como foi difícil viver esses cinco anos vendo toda nossa estrutura emocional sendo colocada a prova todos os dias; mas o melhor... agora somos terapeutas.
A vida de terapeuta é uma vida de entrega na qual transcendemos diariamente nossos desejos pessoais e voltamos nosso olhar para as necessidades e crescimento do outro. Obtemos prazer não apenas pelo crescimento do nosso paciente, mas também pelo efeito da reverberação – a influência salutar que nosso paciente tem sobre aqueles com quem eles têm contato em suas vidas. Há um privilégio extraordinário nisso. E uma satisfação extraordinária, também.
Somos guardiões de segredos. Todos os dias pacientes nos honram com seus segredos, freqüentemente nunca antes compartilhados. Receber tais segredos é um privilégio concedido a bem poucos.
Algumas vezes os segredos me chamuscam, pulsam dentro de mim e despertam minhas próprias memórias e impulso fugidios, há muito esquecidos. Outros, ainda, me entristecem quando sou testemunha de toda uma vida que pode ser desnecessariamente consumida pela vergonha e incapacidade de se perdoar.
Nós terapeutas carregamos o fardo de segredos dolorosos de culpa por atos cometidos, vergonha de não ter agido, anseio de ser amados e apreciados, vulnerabilidade profunda, inseguranças e medos.
Ser um guardião de segredo tornou-me, com o passar dos anos, mais gentil e tolerante. Quando encontro indivíduos inflados de vaidade ou presunção, ou que se distraem por qualquer uma de uma infinidade de paixões devoradoras, eu intuo a dor de seus segredos profundos e não faço um juízo, mas sinto compaixão e, acima de tudo conectividade.
De mãos dadas com os pacientes, saboreamos o prazer das grandes descobertas -  a experiência do “arrá!” – quando fragmentos ideacionais discrepantes subitamente deslizam suavemente, unindo-se com coerência.
Eu sempre costumo fazer uma analogia sobre o que é ser terapeuta.
Quando um paciente nos procura, ele traz consigo uma caixa com milhares de peças de um gigantesco quebra cabeça, cabe a nós terapeutas a missão de organizar e ajudar nosso paciente a montar este quebra cabeça, mas não é fácil. Quem já montou um quebra cabeça sabe: sempre deve-se começar a montar pelas extremidades.
A cada dia uma nova peça é encaixada e o quebra cabeça vai ganhando formas cada vez mais claras, porém ocorre alguns sacrifícios, você vai percebendo que algumas peças não pertencem aquele quebra cabeça, mais que isso, estão faltando algumas peças.
Com muito cautela e a duras penas seu paciente vai entregando as peças que estavam sorrateiramente escondidas, e com isso o enorme quebra-cabeça que antes parecia impossível montar, agora ganha vida; você acaba de encaixar a última peça.
É o fim?
Não!
Você olha para a mesa e vê que as peças que sobraram fazem parte de um novo quebra cabeça.
Let's Go Again!? (Risos).
Por fim, sempre considerei um privilegio extraordinário pertencer a venerável e honrada agremiação dos que curam, e ocupam seu tempo a fim de cuidar do desespero humano.
Hoje chega ao fim mais um ciclo de nossas vidas; eu falei fim? Desculpe; na verdade é o início de um novo ciclo. Hoje morrem alunos da turma de 2012 formada pela UNIP; amanhã nascem psicólogos hospitalares, comportamentais, psicanalistas, jurídicos, fenomenológicos, organizacionais, enfim...
Hoje é o primeiro dia do resto de nossas vidas.
Muito obrigado a todos que fizeram parte da minha vida nesses cinco anos, e principalmente ao mestres e doutores que não pouparam esforços para sempre tirar o melhor que podíamos oferecer.
Sucesso em nossas carreiras!!!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O sucesso se constrói a noite!


Não conheço ninguém que conseguiu realizar seus sonhos, sem sacrificar feriados e domingos pelo menos uma centena de vezes. Da mesma forma se você quiser realizar seus sonhos, terá que deixar de lado seu orgulho e comodismo.
O sucesso é construído a noite! Durante o dia você faz o que todos fazem.
Mas para obter um resultado diferente da maioria, você tem que ser especial.
Se fizer igual a todo mundo, obterá os mesmo resultados. Não se compare a maioria, pois infelizmente ela não é modelo de sucesso. Se você quiser atingir uma meta especial, terá que estudar no horário em que os outros estão tomando chopp.
Terá que planejar enquanto os outros permanecem na frente da televisão.
Terá que trabalhar enquanto os outros tomam sol à beira da piscina.
A realização de um sonho depende de dedicação. Tem muita gente que espera que o sonho se realize por mágica. Mas toda mágica é ilusão. A ilusão não tira ninguém de onde esta. A ilusão é o combustível de perdedores.

“Quem quer fazer alguma coisa, encontra um meio; quem não quer fazer nada, encontra uma desculpa.”

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Destino



Nós vamos ter dois filhos, não os três que você queria. Vamos casar antes do trinta e ficar juntos até bem velhinhos. Vamos ter uma casa no campo pra você ter o seu jardim e uma na cidade, pra eu não largar toda essa agitação. Teremos de tudo um pouco, faltará alguma coisa às vezes, mas teremos a felicidade da nossa casa. Seremos um casal normal. Perfeição nunca foi nosso forte.  

Nós vamos viajar por onde sempre sonhamos, mas o mais importante é que vamos sempre nos sentir em casa nos braços um do outro. Vamos visitar seus pais, seus parentes, nos acostumar com as piadinhas, e eles vão aprender, pouco a pouco, que entre nós é o amor mais forte que existe. Você será sempre linda. Adorarei sempre te olhar dormindo, mas melhor ainda vai ser ter seu sorriso quando acordar e me ver.

Não seremos escravos de nada, mas livres nesse amor. Poderemos ir e voltar quando quisermos, mas saber que pertencemos um ao outro sempre nos fará voltar pra casa com uma saudade enorme. Brigaremos, teremos ciúmes, discutiremos por bobagens. Mas depois vamos fazer as pazes com um amor mais que gostoso.

Veremos filmes até de madrugada, você vai chorar, eu vou rir. Você vai ter que aguentar meu futebol, mas até que vai gostar de torcer comigo. Temos o mesmo time. Sua mãe vai implicar um pouco, mas quando notar que eu só quero te fazer feliz, sossegará.

Eu vou poder sempre olhar aquela moldura com nosso retrato, outra com nossos filhos, ou até uma sua, sozinha, com aquele barrigão esperando um dos meninos, e rir. Ou chorar. Ou agradecer. Ou tudo ao mesmo tempo. Tudo porque você é a luz da minha casa, da minha vida. Minha estrada.

E eu sonhei isso. Não planejei nada, porque faltou falar contigo. Mas agora, já te contei. Não precisa dar uma resposta logo, mas também sei que nos seus sonhos você já viu algo parecido. Olha, escrevendo demora muito, mas pra mim, bastou piscar e já vi tudo acontecer.

Meu destino está aí cruzado com o seu.

Vem?

G. Lacombe

domingo, 29 de julho de 2012

Quando o fim é só o começo - STRIKE



Sei que desde que você partiu, morri por dentro aos poucos e
No que iniciou o fim, foi quando eu mais te quis
E o mundo caiu, o que era o plano fracassou e o orgulho esvaiu, foi quando eu mais
te quis

É tão certo que há um erro entre nós dois e mesmo assim eu insisto em te querer
Enquanto a vida dá sinais que os caminhos são opostos, eu quis pagar pra ver

Se fugir é me encontrar, mas devemos nos perder
E a razão diz que é o final, o instinto diz mais uma vez
Me conter ou me entregar? Pra me acabar com você
Não tem volta agora é tarde pra dizer adeus

Difícil é ter que admitir que o ódio e o amor convivem em conflito, como você e eu, e
quando eu mais te quis

É tão certo que há um erro entre nós dois e mesmo assim eu insisto em te querer
Enquanto a vida dá sinais que os caminhos são opostos, eu quis pagar pra ver

Se fugir é me encontrar, mas devemos nos perder

E a razão diz que é o final, o instinto diz mais uma vez
Me conter ou me entregar? Pra me acabar com você
Não tem volta agora é tarde pra dizer adeus

Agora é só nós dois contra o mundo e eu sei
Que algo está por vir
Eu sempre quis bem mais do que eu devia ter
E eu quis pagar pra ver

Se fugir é me encontrar, mas devemos nos perder
E a razão diz que é o final, o instinto diz mais uma vez
Me conter ou me entregar? Pra me acabar com você
Não tem volta agora é tarde pra dizer adeus

domingo, 13 de maio de 2012

Confissões de um canalha!!!


Tudo bem! Queremos meninas legais, sexys, saradas, bonitas, inteligentes e boazinhas.
Muito fácil falar, pois quando aparece uma assim, “de bandeja”, a primeira coisa que a gente pensa é: “Oba, me dei bem”. Ficamos com elas uma vez, duas. Começamos a pensar que essa é a mulher que nossas mães gostariam de ter como noras. Se sair um relacionamento, vai ser uma relação estável. Você vai buscá-la na faculdade, vocês vão ao cinema, num barzinho, vai ter sexo toda semana. Tudo básico, até virar uma rotina sem graça…
Você vai olhar os caras bem vestidos e bem humorados indo pra noite arrasar com a mulherada e vai morrer de inveja. Vai sentir falta de dar aquelas cantadas infalíveis na noite, falta de dar umas olhadas para uma gata, ou de dar aquela dançadinha mais provocativa na pista.
Você pensa: “Acho que não estou pronto pra isso, para me enclausurar pro resto da vida nesse relacionamento”. E a boa menina se transforma numa mala, e aos poucos vai surgindo um nojo dela, uma aversão. Quando você vê o nome dela no celular, não dá vontade de atender. Já era!
Aí aquela promessa de vida estável vai por água abaixo, se a menina não se dá conta, a gente começa a ser grosso, muito grosso. E a pobre menina pensa: “O que eu fiz?”
Coitada, ela não fez nada, a culpa é nossa mesmo! Aí, a gente volta pra nossa vidinha, que a gente odiava até semanas atrás. A gente não vê a hora de sair e arrasar na noite! Ou pegar aquela mulher gostosa que sempre quisemos... Grande desilusão. Você chega em casa depois da balada, sozinho e fica tentando descobrir porque você não está satisfeito. De repente foi porque a menina da night, a linda, gostosa, misteriosa, ficou contigo, mas sequer pediu o número do seu telefone... Frustação.
Aí, por mais que não queira, você pensa na sua menina boazinha que deixou pra trás. Ela podia ter seus defeitos, mas era uma menina legal, que ficaria ao seu lado te dando valor. Enquanto isso a boa menina, chateada, lesada, custa a entender o que ela fez para ter te afastado dela. Aí essa dúvida vira angústia, que vira raiva. Então, a menina manda tudo PRA A PUTA QUE PARIL!!!
Não quer mais saber de nada, só de sair, zuar, dançar e beijar outros caras!! Resolve não se envolver mais, para não sair lesada ou chateada. Muito bem!!! Acabamos de criar uma monstra! O tempo passa e a gente continua na mesma.
Volta a reclamar da vida e das mulheres. Elas só querem as coisas com homens cachorros e não estão nem aí pra nós. Ou será que nós é que fomos os cachorros? Elas são assim por culpa nossa. A mulher da night de hoje, era a boa menina de outro homem ontem, e assim sucessivamente.
Provavelmente essa nossa ex-boa menina, deve estar enlouquecendo a cabeça de outro homem por aí. Eu a perdi pra sempre, ela virou uma mulher enlouquecedora e a encontrei na balada. E ela? “Nem olhou pra mim, mas estava mais linda do que nunca…”

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O enamorado da vida


Eu sou um enamorado da Vida!
Para sentir melhor o céu na minha casa,
Plantei a minha casa entre o mar e a montanha.
Se as ondas vêm rugir a meus pés, a horas mortas,
A lua desce a mim numa carícia estranha. 
 

Bebo as estrelas de mais perto. . . Abraço
Todo o corpo do céu num simples movimento.
E, quando chove, sinto a torrente das chuvas
Trazendo da montanha, em seu penacho de águas,
Frondes, ninhos, calhaus e pássaros ao vento. 
 

Eu sou um enamorado da Vida!
Amo-a por tudo quanto ela me pode dar:
A água fresca da fonte, a carícia da sombra,
E até a calma silenciosa e mansa
Desse crepúsculo que baixa devagar. 
 

Em cada mão de folha a minha boca bebe
O orvalho da manhã como um suave licor.
E abro os pulmões, sorvendo em tudo o que me envolve
Essa onda de volúpia e de êxtase e perfume
Que vem do amor e que me leva para o amor 
 

Eu sou um enamorado da Vida!
Tenho ímpetos de voar, de galgar, de vencer
Colinas, penetrar o coração dos vales,
Relinchando feliz como um potro selvagem
Que solta as crinas no ar para melhor correr; 
 

Ou retesar as asas brancas de gaivota
E atirar-me na fúria incrível das procelas;
Beber em haustos toda a glória do mar alto,
Rolar no bojo dos batéis desarvorados
Ou as asas enxugar no alvo lenço das velas 
 

Vida! Quero viver todas as tuas horas,
As que prendi na mão e as que nunca alcancei.
Ser um pouco de ti no espelho das paisagens
Para, quando morrer, levar dentro dos olhos
A beleza imortal de tudo quanto amei.


Olegário Mariano
Do livro:" O enamorado da vida", 1937

sábado, 28 de abril de 2012

A menina que colecionava rosas – Parte Final


Os últimos três anos foram os melhores da vida de Lisa; muita coisa mudou... O mundo mudou. Novas tecnologias foram criadas, presidentes foram eleitos, o planeta ganhou simbolicamente seu habitante de numero 7 bilhão, e agora Lisa bem mais madura cursa o quinto semestre de pedagogia, duas vezes por semana a garota realiza estágio numa instituição de nome Azul do vento, que atende crianças com autismo. Tudo estava em perfeita harmonia exceto por uma coisa; recentemente a avó de Lisa escorregou no banheiro e fez um pequeno ferimento na perna, a princípio um simples ferimento, mas o sangue demorou a estancar, por conta disso dona Charlotte foi levada ao hospital, e já com o sangue estancado a família de Lisa foi sacudida por uma notícia triste, um diagnóstico parcial apontou que a avó de Lisa poderia estar com leucemia.
Passado o luto do primeiro impacto com a notícia, veio à luta e a esperança de cura da doença, a avó de Lisa foi transferida para o hospital Saint Louis que é referência no tratamento de pessoas com leucemia, somente lá eles poderiam dar um diagnóstico mais preciso em relação à doença.
Enquanto realizavam uma bateria de exames em dona Charlotte, os pais de Lisa juntamente com algumas tias aguardavam noticias na sala de espera do hospital, mesmo sabendo os riscos e a gravidade da doença, Lisa tentava demonstrar motivação e otimismo a todos:
- Pessoal? Mãe? Pai? Leucemia tem cura! O prognóstico de pessoas com leucemia na maioria das vezes é positivo, basta que se encontre um doador de medula que seja compatível com a vovó, e pronto. Nós temos que ser fortes agora, vamos aguardar pelos exames e ver o que os médicos dirão.
Passado alguns minutos, o médico entrou pela porta da sala de espera e noticiou a todos o que havia sido feito com dona Charlotte, e quais os procedimentos seriam adotados a partir dali:
- Boa tarde! São parentes da paciente Charlotte Lane?
Dona Melanie disse que sim!
- Bom... Foi coletada uma pequena porção de sangue de dona Charlotte, e posteriormente realizado uma contagem de plaquetas que indicou a produção de grande quantidade de células brancas, que acabam enfraquecendo a produção das células vermelhas.
- E isso significa o que doutor?
O médico esfregando os olhos deu a notícia que ninguém queria ouvir:
- Significa que o diagnóstico parcial de que dona Charlotte poderia estar com leucemia, se confirmou em nossos exames.
Senhor Sebastian, avô de Lisa ficou arrasado, depois se recuperou do impacto com a notícia e pediu para que o médico explicasse o que seria feito a partir dali:
- A leucemia tem cura, porém o processo para se chegar até ela é um pouco árduo, dona Charlotte vai precisar urgentemente de um doador de medula óssea que seja compatível, do contrário... Precisamos encontrar doadores em potencial como, pai, mãe, irmãos, filhos...
Senhor Sebastian questionou o médico:
- Eu posso ser um doador?
- Sim! O sucesso da compatibilidade se dá mais em nível de parentes consanguíneos, mas podemos tentar sim.
Lisa emendou:
- Netos também podem?
- Também! Quanto maior o número de pessoas maiores são as chances! Não o bastante eu coloquei o nome de dona Charlotte no banco nacional de medula óssea, mas a falta de informação faz com que esse banco de doadores seja muito limitado!
Mary; uma das tias de Lisa questionou o médico:
- Limitado? Como assim?
- Qualquer pessoa pode ser um doador de medula óssea! Os doadores preenchem um formulário com dados pessoais e é coletada uma amostra de sangue com 5 ml para testes. Estes testes determinam as características genéticas que são necessárias para a compatibilidade entre o doador e o paciente. Os dados pessoais e os resultados dos testes são armazenados em um sistema informatizado que realiza o cruzamento com dados dos pacientes que estão necessitando de um transplante. Em caso de compatibilidade com um paciente, o doador é então chamado para exames complementares e para realizar a doação. Tudo seria muito simples e fácil, se não fosse o problema da compatibilidade entre as células do doador e do receptor. A chance de encontrar uma medula compatível é, em média, de UMA EM CEM MIL!
Senhor Sebastian questionou o médico mais uma vez:
- E como é feita a coleta da medula?
- A medula é retirada do interior de ossos da bacia, por meio de punções, e se recompõe em apenas 15 dias. Para o doador, a doação será apenas um incômodo passageiro. Para o doente, será a diferença entre a vida e a morte.
- Entendi!
- Ah pessoal! Uma última notícia! Infelizmente teremos que realizar em dona Charlotte algumas seções de quimioterapia para o retardo da doença, com isso vamos ganhar tempo até que encontremos um possível doador; eu sempre gosto de ressaltar que é muito importante o apoio da família nesta hora, embora a medicina não olhe com bons olhos a questão emocional, eu acredito muito que o fator emocional possa ser um grande aliado na cura da doença; nos próximos dias vamos agendar as coletas de sangue para os testes de compatibilidade. Por hoje eu não aconselho visitas; dona Charlotte está um pouco sonolenta por conta da bateria de exames da qual foi submetida, mas a partir de amanhã a vontade.
Dona Melanie agradeceu ao médico por toda a atenção e informação dada à família:
- Doutor...
- Karl!
- Muito obrigado!
- Não precisam agradecer! Se precisarem de alguma coisa, estarei andando pelo hospital, afinal são 2.400 pacientes.
Lisa embora uma “criança” de 23 anos, assumiu o peso e a responsabilidade de ser a estrutura emocional de toda a família, a garota virou uma espécie de guardiã, contava os minutos para sair da universidade e poder correr até o hospital para ficar junto a sua avó.
O hospital Saint Louis, é o maior da cidade, tem diversas alas, dentre elas a de tratamento de pessoas com leucemia. Junto com dona Charlotte no quarto, esta uma garotinha de 4 aninhos que também vai iniciar o tratamento.
No dia seguinte, Lisa saiu do estágio e correu para o hospital, afinal de contas era o primeiro dia que a garota iria passar com sua avó, chegando ao hospital logo se dirigiu para o complexo onde dona Charlotte estava internada. Ao entrar no quarto, Lisa passeou o olho por todos os lugares, em seguida avistou a garotinha que estava em um leito mais ao canto, junto à garotinha estava também sua mãe, Lisa cumprimentou as duas e dirigiu-se a sua avó:
- Vó?
- Oi Lisa, tudo bem?
- Sim, e a senhora? Como dormiu?
- Eu dormi bem! A vovó está bem! Sua mãe acabou de sair daqui!
- Eu estava no estágio, por isso me atrasei!
Minutos depois uma enfermeira adentrou o quarto em que Lisa, sua avó, a garotinha e sua mãe estavam, o alvo era a pequena de 4 anos de idade, bastou ver a enfermeira que a criança começou a chorar compulsivamente, sua mãe tentava acalma-la, porém em vão.
Um garoto chega para mais um dia de peregrinação; pelos corredores do hospital Saint Louis ele não passa despercebido, os sapatos são duas vezes maiores que seu número, as meias, uma verde a outra azul, calça xadrez, suspensórios, jaleco e uma camisa listrada, no rosto uma leve sombra branca acima das sobrancelhas, bochechas rosadas e no centro de sua face, a alma de um palhaço, o nariz vermelho. Em uma de suas mãos, seu amigo inseparável, o Tchuco, uma centopeia de pelúcia que acompanha o garoto. Na cabeça um chapéu de sapo, isso mesmo, um chapéu de sapo, para os íntimos é o Crazy Frog.
Quem é esse rapaz?
Respeitável público, com vocês: Doga! (Risos)
Ao adentrar a ala de pacientes com leucemia, ele ouve um choro lastimável que vem de um dos quartos, o garoto segue em direção ao choro até sua origem... Exatamente o quarto em que Lisa estava com sua avó. Doga entra em cena:
- Oras, Oras! Estava ouvindo um choro que vinha deste quarto, pensei... Quem será?
Ao avistar o palhaço a garotinha ainda ressabiada deixou escapar um sorriso:
- Por que você está chorando?
- Por que ela vai me dar uma injeção! Vai doer!
O palhaço cochichou com a enfermeira:
- Enfermeira? Posso tentar?
- Fique a vontade!
Com Tchuco em suas mãos, Doga puxou um diálogo amistoso com a garotinha:
- Fala seu nome para mim?
- Lucy!
- Que nome mais lindo Lucy!
- Obrigada!
- Deixa eu te contar um segredo...
O garoto debruçou a cabeça perto de Lucy:
- Era uma vez, uma família de vagalumes, tinha o papai vagalume, a mamãe vagalume e a filhinha vagalume, você conhece vagalumes né?
- Aqueles com lusinhas no bumbum?
- Isso! Aqueles com lusinhas no bumbum! Um dia a filhinha vagalume ficou dodói, e você acredita que a lusinha no bumbum parou de brilhar?
- Se apagou?
- Sim!
- Por quê?
- Por que ela estava dodói! Mas existe um jeito da lusinha voltar a brilhar!
- Como?
- Ela precisa tomar um remedinho, é uma poção mágica que faz a lusinha acender de novo!
- Se ela tomar ela vai ficar bem?
- Vai sim! Eu prometo! Por que você não deixa eu dar uma picadinha no seu braço?
- Vai doer!
- Não vou mentir para você, vai doer um pouquinho, mas eu prometo que vai ser rapidinho! Você confia em mim!?
- Confio...! Eu posso segurar a sua mão?
- Eu vou estar com as mãos ocupadas, mas vamos combinar o seguinte, eu vou deixar o Tchuco com você.
O garoto pegou a centopeia e como um ventríloquo fez Tchuco entrar na conversa:
- Tchuco eu preciso de você!
- “Pode falar Doga”
- Eu preciso que empreste uma de suas patinhas para a Lucy segurar enquanto eu dou uma picadinha no braço dela, você me ajuda?
- “Claro que ajudo! Lucy, eu tenho 100 patinhas, você pode segurar em qualquer uma delas”!
A garotinha deu uma “gravata” em Thuco e o colocou debaixo de seu braço esquerdo! Feito isso, o palhaço pegou o cateter, e sem resistência atravessou a pele sensível da pequena Lucy até encontrar uma de suas veias:
- Doeu?
- Um pouquinho!
- Mas já passou né?
- Sim!
- Algo me diz que em breve a lusinha vai voltar a brilhar!
Antes de deixar o leito de Lucy, o garoto enfiou a mão no bolso, tirou um nariz de palhaço, e colocou no nariz da garotinha:
- Agora você é igual a mim!
Lucy soltou um largo e bonito sorriso:
- Fiquei bonita?
- Você ficou linda! Me promete uma coisa?
- Sim!
- Se precisar tomar algum remédio até amanhã você toma?
- Mesmo se for ruim?
- Mesmo se for ruim!
- Esta bem eu tomo!
O palhaço prometeu voltar no dia seguinte:
- Eu prometo voltar para te ver amanhã! Enquanto não chega amanhã, vou deixar um presente para que você se lembre de mim; o palhaço tirou de um de seus bolsos do jaleco, um cisne feito de origami e deu a garotinha. A mãe de Lucy ficou inerte:
- Você é incrível!
O garoto colocou as mãos no rosto da mãe de Lucy e disse:
- Sua filha é incrível! Não sou eu quem está deitado nessa cama, e mesmo assim ainda sorrindo!
Lisa ficou paralisada olhando aquela cena, não acreditando muito no que estava vendo, a garota estava encantada pelo palhaço. Em seguida o palhaço dirigiu-se para o leito de dona Charlotte:
- Boa tarde, tudo bem com senhora?
- Estou ótima!
- Isso é bom!
O garoto segurou a mão de dona Charlotte, e quase que por osmose, passou toda força dele a ela:
- A senhora já realizou a primeira seção de quimioterapia?
- Ainda não! Está marcado para logo mais a noite!
- Se quiser eu volto aqui a noite para estar junto da senhora!
- Não precisa meu anjo! Deve haver outras crianças que estão precisando mais que eu, além do mais, eu tenho minha neta Lisa, muito obrigado mesmo assim!
- Disponho!
O palhaço tirou de seu bolso mais um cisne de papel e colocou em cima da mesinha ao lado de dona Charlotte, em seguida brincando, o garoto pegou Tchuco e despediu-se de todos no quarto:
- Tchau, Tchau, Tchau!
- Fala Tchau Tchuco!
- “Tchau Lucy”?
- Tchau Tchuco!
Ao virar-se de costas para sair do quarto, Lisa olhou para os pés do garoto e viu que ele usava meias de cores diferentes, a garota fechou os olhos e alguns flashs passaram por sua cabeça, ao abrir os olhos ela viu estampado no jaleco do garoto a seguinte frase: 

“É muito simples ser importante na vida dos outros.” 

Lisa pensou: “Essa frase não me é estranha”. Em seguida a garota voltou a fechar os olhos na tentativa de buscar em algum lugar de sua memória as cenas perdidas. Segundos depois vieram outros flashs; em preto e branco, meio desfocado, veio a imagem da fila e o garoto a sua frente, em seguida a imagem dela e Miles andando pelos corredores da universidade, quando por eles passa um maluco usando meias de cores diferentes, Lisa abre os olhos rapidamente:
- É ele!
Dona Charlotte:
- É ele quem?
- Vó! Me aguarda um minuto, eu já venho!
O palhaço e seu fiel escudeiro estavam prestes a desaparecer no corredor, quando Lisa chamou pelo garoto:
- Ei!
O palhaço olhou para trás e Lisa emendou:
- Tem um minuto?
- Claro!
Lisa se aproximou do garoto:
- Estuda na universidade Fredom?
- Sim! Quinto semestre de medicina! Por quê?
- Eu não sei bem ao certo por que estou te falando isso, mas é que... Eu já te vi por lá! No dia da realização da matrícula, eu estava atrás de você na fila!
- Que legal! Estuda o que lá?
- Quinto semestre de pedagogia!
- Desculpe, mas nunca te vi lá! Sabe como é... Nossa universidade é bastante grande!
- Sem problemas! Posso te fazer só mais uma pergunta?
- Claro!
- Eu ainda estou impressionada com o que fez com a garotinha... Lucy né?
- Isso!
- Por que disse a ela que a injeção ia doer!? Por que foi tão sincero!?
- O mundo de uma criança na idade dela é muito simbólico; se eu digo a ela que não vai doer, e na hora de colocar o cateter dói, eu nunca mais vou conseguir dar algum medicamente a ela, por que ela vai saber que eu menti; agora, se eu digo a verdade, ela passa a confiar em mim, e eu nela! Crianças são muito sinceras, isso consequentemente exige que nós também sejamos.
Lisa sem perceber estava boquiaberta vendo o garoto falar:
- Mais alguma pergunta?
- É...  Não... Não! Obrigada!
O palhaço tirou de seu bolso mais um cisne de papel, e ao se despedir de Lisa, deixou em suas mãos:
- Até mais!
- Até!
Na mesma noite, ainda que dona Charlotte tivesse falado que não precisava que o garoto viesse acompanhar a primeira seção de quimioterapia, o palhaço voltou ao hospital para estar junto da avó de Lisa:
- Boa noite dona Charlotte?
- Você veio!?
- Pois é! (Risos) Sobrou uma pequena janela em meus horários e acabei vindo! Preparada?
- Sim!
Doga olhou para Lisa e a cumprimentou:
- Oi Lisa!
- Oi...
- Doga! (Risos)
- Oi Doga! (Risos)
- Dona Charlotte! O procedimento é super rápido! Não precisa se preocupar!
Em seguida a enfermeira entrou e realizou em dona Charlotte a primeira sessão de quimioterapia.
No dia seguinte, por volta das 13h00min, Doga e Tchuco chegam para mais um dia de distribuição de sorrisos, leito por leito, a dupla espalha alegria por onde passa; até que chegam no quarto de Lucy e dona Charlotte; a garotinha por conta da quimioterapia estava dormindo, o palhaço então pergunta para sua mãe Zoe como ela estava:
- Tudo bem?
- Indo!
- E Lucy como está?
- Ela comeu pouco hoje, e está bem sonolenta!
- É normal Zoe! O tratamento é bastante pesado! Lucy tem irmãos?
- Não!
- Já coletaram seu sangue para testes de compatibilidade?
- Já sim! Meu e do meu marido!
- Então é aguardar!
- Um milagre?
- E por que não?
Zoe respirou profundamente:
- Vamos esperar então!
- Vou dar mais uma volta pelo hospital e depois volto para ver se ela acordou; afinal eu prometi que iria voltar para vê-la!
- Ok!
Em seguida o garoto dirigiu-se para o leito de dona Charlotte:
- Boa tarde dona Charlotte!
- Boa tarde Doga! 
- Como a senhora se sente?
- Um pouco fraca, e com enjoos!
- São alguns dos efeitos colaterais por conta da quimioterapia!
- Logo passa!
- Com certeza! Lisa vem para ficar com a senhora?
- Vem sim! Hoje é dia de estágio e ela chega mais tarde!
- Entendi! Bom... Vou dar mais uma volta pelo hospital, se a senhora precisar de alguma coisa!
- Pode deixar!
O palhaço saiu para visitar outros leitos. Meia hora depois Lisa chegou para ficar junto de sua avó, ao entrar no quarto a garota passou pelo leito de Lucy e deu um beijo na testa da garotinha, em seguida perguntou a Zoe como sua filha estava:
- Como ela está?
- Sem muito apetite, e como dá para perceber com muito sono; mas Doga disse que é normal!
- Ele já passou por aqui?
- Sim! Há uma meia hora atrás; mas ele disse que vai voltar para ver se Lucy já acordou!
- Tomara que sim né!
- Tomara!
Em seguida Lisa caminhou até o leito de sua avó:
- Oi vó! Tudo bem?
- A vovó está um pouco cansada hoje; e às vezes da um pouco de enjoo!
- Em breve tudo vai melhorar! Quem passou a manhã aqui hoje?
- Seu avô!
Dona Charlotte olhou para Lisa e deu um pequeno sorriso, Lisa desconfiada retribuiu:
- O que foi Vó?
- Doga!
- O que tem o Doga!?
- Ele gostou de você!
- (Risos) Que viagem Vó!
- É sério Lisa!
- Por que diz isso?
- Ele perguntou por você quando passou por aqui!
- Oras! Ele perguntou por que a senhora estava sozinha! Só por isso!
- Vou te contar uma história Lisa! Antes de encontrar seu avô a vovó já havia namorado alguns rapazes, mas nada demais, nada dava muito certo por que ainda não era pessoa certa! Naquela época, o máximo que fazíamos depois de muito custo era pegar na mão, e namoro sempre em casa, nada de namorado posar em casa de namorada, sexo antes do casamento? Nem pensar! Nós contávamos os dias da semana para ir a praça dar uma volta; todos ficavam dando volta ao redor do coreto, os homens no sentido horário e as mulheres no sentido inverso, parecia um grande ritual; foi quando eu vi seu avô, a gente sente quando é diferente... Ainda me lembro como se fosse hoje; ele chegou ao meu lado e perguntou se podia falar comigo, até parece que eu não ia deixar aquele homem lindo falar comigo; sentamos em um dos banquinhos da praça e conversamos por horas, aquela era a melhor conversa que eu estava tendo em toda minha vida; quando a vovó chegou em casa naquele dia,  tinha certeza de uma coisa: aquele homem seria o pai dos meus filhos; por que estou te contando isso? Por que essa velha aqui sabe reconhecer um grande amor; e Doga é o seu!
- Que assim seja Vó!
Minutos mais tarde Lucy acordou, Zoe deu as boas vindas a filha:
- Oi princesinha!
- Oi mamãe!
- Você dormiu a beça filha! Esta com fome? Quer fazer xixi?
- Não! Agora não!
- Se quiser você fala que mamãe te leva!
Zoe e Lucy ficaram se olhando por alguns minutos, numa sintonia única que só existe entre mães e filhas, minutos depois Lucy surpreendeu sua mãe:
- Mamãe...? Eu vou ficar bem?
- Vai sim filha! Um milagre vai te salvar!
Zoe pegou o nariz de palhaço que Doga havia dado e colocou na menina. Uma hora depois que havia passado pelo quarto da pequena Lucy, Doga voltou para ver se a garotinha já havia acordado, ao entrar no quarto Lucy ficou radiante:
- Doga! Tchuco!
- Oi Lucy!
- Eu estou com seu nariz de palhaço!
- Estou vendo! Você esta linda com ele!
- Obrigada!
- Eu prometi que vinha te ver! Esta vendo... Eu vim! Você está bem?
- Sim!
Lisa se aproximou de Zoe, Lucy e Doga:
- Oi bela adormecida!
- Oi Lisa!
Doga e Lisa brincaram mais um pouco com Lucy, e em seguida o garoto perguntou a Lisa se ela tinha um minuto, a garota disse que sim; Doga se despediu de Lucy e os dois foram conversar do lado de fora do quarto:
- Lisa... Queria me desculpar!
- Do que?
- Aquele dia que veio me perguntar se eu estudava na mesma universidade que você... Tipo... Nem dei continuidade na conversa direito!
- Imagina Doga! Você tem seu “trabalho” aqui dentro, eu só perguntei para ter certeza que era você mesmo!
- Sua avó me disse que faz estágio!?
- É então! Meu curso é voltado para o ensino de crianças com autismo, duas vezes por semana eu passo uma parte da tarde numa instituição de inclusão de crianças autistas. La eu acompanho junto com uma psicóloga como é feito este tipo de trabalho.
- Deve ser bem legal!
- É lindo! Eu trabalho com três menininhos: Gary, Richard, Mathew!
- Seus anjinhos!?
- Sim!
- Temos bastante coisas em comum! Você também é apaixonada por crianças!
- Pra você ver! (Risos)
- Eu também gosto bastante de crianças! São elas que fazem eu acordar todos os dias e ter forças para vir para cá! Eu sinto meu coração bater forte aqui dentro, esse lugar é mágico Lisa... Todos os dias eu vejo milagres acontecer diante dos meus olhos.
- Seus olhos até brilham!
- Eu gosto demais desse lugar!
- Se você não me fala nem percebo! (Risos)
- (Risos) Foi um prazer Lisa!
- O prazer foi meu...
- Doga! (Risos)
- Sem essa vai! Doga é o palhaço, quero saber o nome de quem dá vida a ele!
- Então sinto muito, mas você vai ter que me encontrar fora daqui! Dentro deste hospital eu sou o Doga! (Risos)
Lisa brincou com Doga:
- Tudo bem! Eu nem queria mesmo saber seu nome! (Risos)
- A gente pode... De repente sair para... Tomar um café!
- Se você tiver outra janela em sua agenda super lotada, pode ser amanhã!
- Fechado!
No dia seguinte dona Melanie foi fazer companhia para sua mãe, Lisa e o até então palhaço Doga, puderam tomar o café que o garoto havia proposto, os dois foram ao Soul’s Café, bem em frente ao Hospital Saint Louis, ao vê-lo Lisa brincou com o garoto:
- Te ver assim é quase como ver o Peter Parker sem a fantasia de homem aranha! (Risos)
- Onde estará a Mary Jane?
Em seguida Lisa e o garoto entraram no Soul’s Café e se acomodaram. A garota:
- O que vai tomar?
- Sempre que venho aqui tomo café com leite condensado! E você?
- Tanto faz, nunca vim aqui! (Risos)
O garoto acenou para a garçonete que veio até ele:
- Por gentileza dois cafés com leite condensado!
Lisa olhou para o garoto e sorriu:
- Fim do jogo! Não estamos mais dentro do hospital! Seu nome!
- Sorria de novo?
- Por quê?
- Sorria de novo?
- Não me engambele Doga! (Risos)
- Eu falo meu nome e você sorri de novo! Fechado?
- Nome!
- Carlton!
- Carlton? Belo nome!
- Muito obrigado! Sorria de novo?
Lisa soltou um sorriso para Carlton:
- Você tem covinhas nas bochechas?
- Ai meu Deus, só minha mãe e minha amiga Kate já tinham percebido minhas covinhas... Não vai ficar me zuando né? (Risos)
- Pelo contrário, elas deixam você ainda mais bela!
Lisa ficou envergonhada; Carlton concluiu:
- Principalmente quando ficam vermelhas!
O sofrimento da avó de Lisa a humanizou bastante, não que ela nunca tenha sido humana, não é isso, mas Lisa começou a ver uma nova possibilidade de deixar-se apaixonar novamente, desta vez sem medos. Depois de muito conversarem Lisa ainda desconfiada abaixou a guarda:
- Carlton!? Por que será que eu estou me sentindo a pessoa mais protegida do mundo ao seu lado?
- Eu também não sei, mas podemos descobrir juntos!
- Eu não sou uma pessoa legal para você se apaixonar... Vai por mim, eu não sou! Você corre um grande risco em se apaixonar por mim!
- Estou disposto a correr riscos!
- Tem certeza?
- Absoluta! Depois que alguns de meus relacionamentos não deram certo, eu prometi a mim mesmo que jamais iria me apaixonar novamente! Confesso que cometi um erro, eu subestimei meus sentimentos e por regra não costumo fazer isso!
Lisa e Carlton se aproximaram e acabaram se beijando.
Uma semana depois, Doga voltou ao hospital para mais um dia de peregrinação, ao entrar no quarto de Lucy, Doga fingiu bater a cara na porta:
- Tchuco! Você nem para me avisar que a porta estava fechada!
- “Eu pensei que você tinha visto Doga cabeção!”
Lucy soltou uma grande gargalhada, depois chamou pelo palhaço:
- Doga!
- Oi princesinha! Fala oi Tchuco! Seu mal educado! (Risos)
- “Oi Lucy”!
- Oi Tchuco!
Doga se aproximou do leito de Lucy, e a pequena deu-lhe um grande abraço:
- Como você passou a semana?
- Bem! A mamãe me ensinou a cantar uma música!
- A é? Qual música?
- A do peixe vivo! Você conhece?
- Eu acho que sim!
- Canta comigo?
- Claro!
- Eba! 
Como pode um peixe vivo viver fora da água fria?
Como pode um peixe vivo viver fora da água fria?
Não há pranto sem saudade, nem amor sem alegria.
É por isso que eu reclamo essa tua companhia.
É por isso que eu reclamo essa tua companhia.

 Como poderei viver?
Como poderei viver?
Sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia.
É por isso que eu reclamo essa tua companhia.
Sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia.
É por isso que eu reclamo essa tua companhia.

Lucy ficou extremamente feliz:
- Obrigada Doga!
- Não precisa me agradecer Lucy! Vou te ensinar como palhaços dizem tchau! Coloca seu nariz de palhaço!
Lucy atendeu prontamente o pedido de Doga, em seguida o palhaço encostou seu nariz no nariz da pequena e começou a esfregar! Lucy começou a rir, o garoto fez algumas cosquinhas na garotinha e ela ria ainda mais, até que sua risada começou a contagiar a todos, Zoe começou a rir, dona Charlotte e Lisa também, até que todos estavam rindo. O garoto deixou a centopeia com Lucy, fez um afago em Zoe, e foi até o leito da avó de Lisa:
- Oi dona Charlotte!
- Oi Doga!
- Oi Lisa!
- Oi Carlton! Ops... Oi Doga!
O garoto sorriu, e voltou-se para a avó da garota:
- Como a senhora passou a semana?
- Bem! Os enjoos passaram... Por pouco tempo!
- Hoje a noite tem uma nova sessão de quimioterapia?
- Sim...!
Depois de um breve silêncio dona Charlotte surpreendeu o palhaço:
- Doga... Olha para mim!
- Diga!
- Eu vou perder os cabelos?
O garoto olhou para Lisa e abaixou a cabeça; segundos depois encheu os pulmões de ar e disse:
- Infelizmente sim!
A avó de Lisa ficou visivelmente abalada com a notícia, ela tinha esperanças que talvez não fosse preciso raspar os cabelos. Em seguida Lisa olhou para Lucy brincando com Tchuco. Ao olhar para Doga, antes mesmo de perguntar, o garoto com os olhos cheio de lágrimas respondeu:
- Ela também!
Não seria a primeira vez que o palhaço ia ver uma criança careca; todos os dias Doga via crianças que por conta do tratamento raspavam suas cabeças, mas Lucy tinha algo de especial, algo que mexia com ele emocionalmente; e ainda que o garoto soubesse que era só uma questão de tempo para que isso viesse a acontecer, Doga não queria admitir.
Uma semana depois, ao sair do estágio, Lisa correu para o hospital para ficar junto a sua avó, ao adentrar o quarto, depois de dar um beijo em Lucy e Zoe, a garota levou o primeiro duro golpe emocional, haviam raspado os cabelos de sua avó.
Duas coisas podem ser consideradas a alma de uma mulher, primeiro os seios, depois os cabelos.
Lisa não conseguiu disfarçar a emoção ao ver dona Charlotte; com lágrimas nos olhos a garota gaguejou:
- Oi Vó!
- Oi Lisa!
- Quando rasparam?
- Hoje pela manhã! Já estava começando a cair, eles acharam melhor raspar.
- Quem estava aqui?
- Meu príncipe encantado e sua mãe!
- E esse lenço? Quem deu? Meu avô príncipe encantado!?
- Sim! Ele mesmo colocou em mim! Por que está chorando Lisa?
- Não... Nada Vó!
Mesmo com todos os obstáculos que a vida lhe reservara, dona Charlotte seguia dando um valor absurdo em sua vida, exalando otimismo em cada célula de seu corpo.
Mais um dia da luta de Lucy pela vida; para passar o tempo a pequena pediu uma caixa de lápis de cor e algumas canetinhas para desenhar, minutos depois a garotinha entregou o desenho para sua mãe:
- Tome mamãe!
Ao ver o desenho Zoe ficou extremamente emocionada, a pequena Lucy havia desenhado seu pai, sua mãe, Doga, Tchuco, Lisa, dona Charlotte, e ao centro da folha Ela... Já sem os cabelos.
Se Lisa assustou-se ao ver sua avó, com Doga não foi diferente, ao adentrar o quarto, o palhaço foi sacudido com a imagem de dona Charlotte de lenço na cabeça; logo a atenção do garoto foi desviada pela vozinha doce da pequena Lucy:
- Doga! Doga! Doga! Olha o desenho que eu fiz para você!
- Me deixe ver!
Ao pegar o desenho, o palhaço viu que Zoe estava emocionada.
Doga ainda se recuperava da imagem da avó de Lisa quando foi novamente surpreendido com o desenho da pequena Lucy. Ainda que não tivesse cortado os cabelos, a garotinha já se desenhava sem eles. Doga recuperou-se, enxugou as lágrimas dos olhos de Zoe e pediu para que Lucy explicasse o desenho:
- Quem são Lucy?
- Meu pai, minha mãe, você, Tchuco, Lisa, a dona Charlotte, e eu!
- E está faltando alguma coisa em você?
- Não!
Doga depois de um breve silêncio retomou:
- Lucy! Se lembra dos vagalumes?
- Sim!
- Se lembra do remedinho que falei que precisava tomar? A poção mágica?
- Para a lusinha no bumbum voltar a brilhar?
- Isso!
- Eu lembro!
- Deixa eu contar uma coisa! Aquele remedinho vai fazer com que alguns fios do seu lindo cabelo caia, então... Seria melhor...
O garoto começou a chorar; Lisa, dona Charlotte e Zoe também, Lucy questionou o palhaço:
- Por que está chorando Doga?
- Eu estou chorando de alegria de saber que você existe Lucy! De estar olhando para você! E de ver o quanto você é especial!
 Doga respirou fundo e retomou o diálogo:
- Quanto a seu cabelo Lucy! Seria melhor a gente cortar! O que acha?
- Que nem dona Charlotte?
- Isso! Que nem a dona Charlotte!
A avó de Lisa percebendo o quão difícil estava sendo aquele momento, tomou a liberdade de entrar na conversa:
- Sabe o que é Lucy? As vezes é preciso cortar os cabelos para nascer outros ainda mais bonito!
A garota sorrindo respondeu:
- Está bem! Eu corto!
Doga concluiu:
- Eu vou estar com você!
Lucy encheu o quarto de luz e esperança naquela tarde, em nenhum momento a pequena chorou. Minutos depois uma enfermeira entrou para medicar a garotinha, Doga cochichou com ela:
- Quando vão cortar os cabelos dela?
- Provavelmente no fim da tarde!
- Eu quero estar junto, posso?
- Claro!
Em seguida o palhaço despediu-se de Lucy e prometeu voltar; Doga avisou Zoe que iriam cortar os cabelos dela no fim da tarde, o garoto então se aproximou de dona Charlotte e Lisa:
- Obrigado pela ajuda com a Lucy!
- Obrigado você por ter me proporcionado ver uma das cenas mais bonitas da minha vida!
- Imagina! A senhora ficou linda com esse lenço!
- Foi meu marido que escolheu!
- Ele tem ótimo gosto! A senhora está bem?
- Depois do que acabei de ver... Estou ótima!
- Se importa se eu levar sua neta por alguns minutos no final da tarde?
- De maneira nenhuma!
Lisa sorriu:
- Aonde vamos?
- Apenas confie em mim! Passo aqui no fim da tarde para te pegar!
- Ok!
No fim da tarde, conforme havia prometido, Doga voltou ao hospital; ainda no corredor o palhaço encontrou a enfermeira da qual ele havia conversado algumas horas antes:
- Já levaram a Lucy?
- Estamos indo buscá-la!
- Deixa que eu vou!
- Tudo bem, vou preparar a sala!
Doga entrou no quarto brincando:
- É aqui que mora a garotinha mais linda do hospital Saint Louis?
- Doga!
- Tudo bem?
- Sim...! Doga este é meu pai! Ele saiu do serviço só para vir me ver!
- Que legal!
O palhaço se apresentou:
- Prazer Doga!
- Prazer Damon!
O palhaço olhou para Lisa:
- Preparada?
- Sim!
- Então vamos!
- Lucy! Eu vim te buscar para cortar os cabelos!
- Tudo bem! Voce vai comigo?
- Todos nós vamos! Sua mae, seu pai, eu e a Lisa!
- Eba!
Todos se encaminharam para a sala onde os cabelos da pequena Lucy iriam ser cortados, assim que chegou a garotinha sentou na cadeira, Doga colocou o nariz de palhaço nela:
- Lucy... Vai ser bem rápido!
- Você vai ficar aqui comigo?
- Vou estar sentado aqui do lado! Eu prometo!
Na antessala, através de um vidro, o pai de Lucy, sua mae e Lisa acompanhavam tudo que estava acontecendo.
A enfermeira ligou a maquininha e lentamente começou a varrer os cabelos da pequena Lucy, cacho por cacho os cabelos da garotinha caiam no chão, do lado de fora, olhando pelo vidro, Damon e Zoe abraçados choravam compulsivamente, Lisa por sua vez também, Doga tentou segurar o máximo que podia, mas foi vencido pela emoção de ver os cabelos de Lucy serem cortados, e acabou desabando em lagrimas também. Tudo parecia um filme em Slow Motion, cada movimento, cada fio de cabelo, tudo se movia como se o tempo não existisse.
Assim que a enfermeira desligou a maquininha, Lucy passou a mão em sua cabeça... Não falou nada, apenas chorou... Doga ajoelhou-se diante de Lucy e a consolou com um grande abraço:
- Está tudo bem! Vai ficar tudo bem! Eu estou aqui!
- Eu te amo Doga!
 - Eu também te amo Lucy...! Agora sente-se ali! É minha vez!
Doga sentou-se na cadeira onde Lucy estava sentada, e surpreendendo a todos sem titubear pediu:
- Por favor enfermeira! Raspe a minha cabeça também!?
Do lado de fora todos ficaram sem entender; a enfermeira atendeu ao pedido do garoto; religou a maquininha e repetiu o gesto que havia feito em Lucy. Doga brincou com Lucy:
- Que legal Lucy...! Nós estamos carecas!
A garotinha sorriu. Agora Doga e Lucy estão iguais...
Ao sair da sala a pequena Lucy foi amparada por seus pais, e Doga por um beijo caloroso de Lisa.
Mais um dia na vida de Carlton, o garoto que dá vida ao palhaço Doga; Carlton passou a manhã toda dobrando origamis de papel, a tarde ele foi para o hospital para mais um dia de distribuição de sorrisos, ao entrar no quarto de Lucy e Dona Charlotte o garoto avistou a avó de Lisa dormindo, sentada em uma cadeira e debruçada aos seus pés, Lisa também dormia. Lucy havia recebido a terceira sessão de quimioterapia e estava bem quietinha, Doga com um lindo sorriso se aproximou dela:
- Como vai minha carequinha?
Falando bem baixinho a garota respondeu:
- Bem!
Zoe olhou para Doga e começou a chorar:
- Me dói tanto o coração ver ela deste jeito, ela é tão pequenininha, tão pura, tão frágil! Por que ela? Por que não eu?
- Zoe... Olha para mim! Você acredita em Deus?
- É claro!
- Sua filha é morada dele! Tenha fé... Tenha fé!
Lucy chamou pelo palhaço:
- Doga?
- Oi!
- A mamãe falou que um milagre vai me curar!
- A mamãe esta certa!
- Eu vou ficar bem Doga?
- Tenho certeza que sim! Bom... Eu preciso ir!
Doga passou pelo leito de dona Charlotte, e cuidadosamente deixou um envelope ao lado de Lisa.
Ao acordar, Lisa viu o envelope ao seu lado, ainda sonolenta abriu para ver o havia dentro, primeiro Lisa encontrou uma espécie de manual de instruções:

Oi Lisa! Tudo bem?
Você acaba de receber um “Kit felicidade”.
Se eu estiver certo, neste momento você deve estar se perguntando:
Que maluco seria capaz de me mandar um envelope com pássaros e cisnes feitos de origami?
Resposta: Um maluco que quer ver você cada dia mais feliz. 

Vamos aos itens do Kit: 

Quatro Pássaros.
Um Cisne.
Uma Rosa.
Um Pen Drive. 

Os pássaros são uma fonte de alegria constante; as pessoas que oferecem pássaros feitos de origami terão felicidade em abundância. Conta uma lenda que quem fizer mil origamis alcança uma graça, se for verdade ainda faltam uns oitocentos para mim. (Risos)
É o seguinte Lisa, gostaria que você oferecesse três desses pássaros a três anjos em especial, você deve saber de quem estou falando:

Gary.
Richard.
Mathew.

Eu sei que eles são pequenininhos e provavelmente vão rasgar tudo, mas o importante é o significado de oferecer os pássaros.
O cisne adivinha? É seu! (Risos)
A rosa feita de papel? Também é sua! (Risos)
O pássaro que restou você oferece para uma pessoa especial... Quem você quiser!
O que esta faltando mesmo?
Ah claro! O pen drive! (Risos)
Bom... Sem comentários em relação ao pen drive, apenas abra e assista o que tem dentro.
Que tal tomarmos um café a noite no Soul’s?
Com carinho

Doga

Lisa rapidamente pegou o notebook que estava em sua mochila e ainda no hospital a garota foi assistir ao conteúdo que havia no pen drive.
Lisa ficou encantada com a menininha no vídeo.
A noite Lisa e Carlton foram ao Soul’s, a garota agradeceu pelo envelope com os pássaros:
- Obrigado pelo envelope!
- Gostou?
- Amei! A loirinha do vídeo... É linda!
- Tanto quanto a Lucy!
- Falando nela... Ainda não tive a oportunidade de perguntar isso! Por que raspou a cabeça também?
- Me partiu o coração ver ela passando a mão na cabeça procurando pelos cabelos, achei que ficando igual a ela poderia deixa-la mais feliz!
- Mais uma vez você estava certo!
- A gente faz o que está ao nosso alcance!
- Eu acho que você já fez muito mais do que está ao seu alcance!
- Será? Sempre há algo mais a fazer!
- Juro que se eu pudesse eu salvava a vida dela!
- Quem sabe!
- Mais uma pergunta Carlton! Quando você promete para as pessoas que elas vão ficar bem... Não me interprete mal, mas... Você acredita nisso?
Carlton abaixou a cabeça e segundos depois ao se levantar seus olhos estavam marejados de lágrimas:
- Eu acredito! Isso se chama FÉ! Mesmo com 99% de chances de dar errado, as pessoas querem ouvir 1% de chance de que vai dar certo. A única coisa que as pessoas querem de mim, é que eu acredite na cura delas, por que às vezes nem elas mesmas acreditam.
Lisa abaixou a cabeça:
-Eu queria ser mais forte Carlton! Eu só queria ser mais forte!
Carlton colocou seu dedo indicador embaixo do queixo de Lisa e levantou para que a garota olhasse dentro de seus olhos:
- Olha pra mim! Não acha que está se cobrando demais...? Carregar o peso emocional de toda família é um fardo pesado demais não acha?
Lisa abraçou Carlton e em seu ombro desabou em lágrimas, a camiseta do garoto chegou a ficar molhada.
Depois de seu desabafo Lisa se aproximou de Carlton e os dois voltaram a se beijar, a garota brincando se mostrou inconformada por ter encontrado Carlton somente agora:
- Fala pra mim? Onde você estava todo este tempo? Por que não apareceu na minha vida antes?
- Por que o destino convergiu para que fosse agora!
Uma semana depois, os exames de compatibilidade que os parentes de Dona Charlotte e os pais de Lucy haviam feito, ficaram prontos, o doutor reuniu todos para a divulgação dos resultados, inclusive os pais de Lucy:
- Boa tarde a todos, eu reuni todos aqui para a divulgação dos resultados dos exames de compatibilidade das pacientes Lucy e Charlotte! Logo mais vocês vão entender por que chamei também os pais de Lucy para estarem aqui! Antes de divulgar os resultados eu queria dizer que independente de serem ou não compatíveis, não percam as esperanças, essa é só mais uma batalha, perdida essa, inicia-se outra...! Bom, vamos aos resultados!
O médico Karl abriu os envelopes e leu um por um para não cometer erros e dar falsas esperanças, assim que leu o último envelope o médico sorrateiramente soltou um sorriso:
- Pessoal! Todos os exames realizados nos parentes de Dona Charlotte... Deram incompatíveis, nenhum de vocês é compatível com dona Charlotte...
Senhor Sebastian entrou em desespero, dona Melanie e algumas tias de Lisa começaram a chorar; Lisa abraçou Doga e também começou a chorar, enquanto isso os pais da pequena Lucy tentavam confortar os parentes de dona Charlotte.
O doutor Karl retomou:
- Eu sinto muito...! No entanto tivemos uma grande surpresa ao colocar os resultados dos exames de vocês no banco de dados, Lisa embora seja incompatível com dona Charlotte, é 99,9% compatível com a paciente Lucy!
Os pais da garotinha ficaram emocionados.
Doga olhou para Lisa:
- Deus as vezes faz milagres na vida de algumas pessoas, outras vezes, escolhe outras pessoas para fazer milagres em nossa vida! Acho que chegou sua hora Lisa!
Lisa se aproximou dos pais de Lucy e anunciou o que todos já esperavam:
- Zoe... Damon...! Eu vou salvar a vida da Lucy!
- Lisa muito obrigado! Espero do fundo do meu coração que apareça um doador que seja compatível com sua avó!
- Vai aparecer! Eu tenho Fé que vai!
Na sala de espera do hospital Saint Louis, os sentimentos de tristeza e alegria se misturaram. Era o fim de uma batalha árdua na vida da pequena Lucy, e o início de uma nova batalha na vida de Dona Charlotte. Doga amparou Lisa em seus braços:
- Lisa!? Tudo vai dar certo!
- Se fosse outra pessoa talvez eu não acreditasse! Mas vindo de você, não tem porque eu temer!
Algumas horas depois a família de dona Charlotte foi sacudida por uma nova notícia; uma reunião de emergência foi marcada para o doutor Karl anunciar o que havia de novo:
- Desculpe ter chamado vocês as pressas para estarem aqui! Quando eu disse que aquela era apenas mais uma batalha, e que era para vocês não perderem as esperanças, é por este motivo que eu falava! Surgiu um doador 97,6% compatível com dona Charlotte!
Todos na sala comemoraram a notícia, Lisa ficou eufórica:
- Quem é o doador doutor? Quem é?
- Carlton Malbone!
Lisa ficou surpresa e começou a chorar, para todos ali, Doga era um simples palhaço que transformava dias escuros em dias claros, somente Lisa sabia a “identidade secreta” de Doga.
Lisa saiu correndo pelos corredores do hospital para ir ao encontro de Doga, ao dobrar um dos corredores a garota deu de topa com o palhaço:
- Ei... Aonde você vai com tanta pressa!
Vendo que era Doga, Lisa o abraçou fortemente:
- Eu te amo Carlton! Eu te amo muito!
- Eu também Lisa! Desde a primeira vez que te vi!
- Sua medula é compatível com a da minha avó!
- Que ótima notícia Lisa!
- Muito obrigado Carlton! Você fez eu voltar a viver! Esteve comigo sempre! Me fez acreditar em milagres...!
- Durante dois anos, eu vi muitos milagres acontecer aqui dentro Lisa, mas eu nunca imaginei que um dia seria o próprio milagre!
- Somos dois milagres Carlton! Uma pequena parte nossa vai devolver a vida a duas pessoas!
Carlton e Lisa correram para o quarto para dar a noticia; Carlton foi falar com dona Charlotte, enquanto Lisa foi falar com Lucy:
- Lucy!
- Oi Lisa! Por que está chorando?
- Lucy... Lembra de quando a mamãe disse que um milagre iria te salvar?
- Sim! Me lembro!
- O milagre sou eu Lucy! A lusinha no bumbum do vagalume vai voltar a brilhar... Eu vou salvar a sua vida!
- Eba! Eba! Eba!
As duas se abraçaram:
- Eu te amo Lucy!
- Eu também te amo Lisa!
Em seguida foi a vez de Carlton dar a notícia a avó de Lisa:
- Dona Charlotte... A senhora acredita em milagres!?
- Depois que te conheci passei a acreditar ainda mais!
- Sua Fé te salvou! Eu sou compatível com a senhora... Eu vou salvar a sua vida dona Charlotte!
- Vai parecer muito estranho o que vou te falar... Mas eu já sabia disso! Eu tive um sonho na noite passada, e nele você salvava a minha vida!
- Realmente é um milagre!
No dia seguinte foi realizado o procedimento de coleta da medula óssea de Carlton e Lisa, em seguida transplantada na pequena Lucy e dona Charlotte.
Alguns meses depois...
Lisa e Carlton agora são namorados, a garota depois de toda experiência vivida com sua avó e a pequena Lucy, se juntou a Carlton, Lisa agora é a palhaça Dedé.
Lucy graças a Lisa agora esbanja de boa saúde, os cabelos voltaram a crescer, e a pele da garotinha está corada de novo. Lisa e Carlton a visitam com frequência.
A avó de Lisa? Tem gás para viver mais uns 200 anos, dona Charlotte assim como Lucy, goza de boa saúde, coitado do senhor Sebastian que a acompanha pelos bailes da Brilhantina. (Risos).
Como eu sei que Carlton é o grande amor da vida de Lisa? Eu não sei, ela também não sabe, eu só sei que cada relacionamento é um relacionamento, e não podemos desperdiçar as chances que o destino nos dá.


The End