segunda-feira, 18 de julho de 2011

O medo advém da ignorância

Quem eu sou?
De onde eu vim?
Pra onde vou?
O ser humano é um animal que morre de medo, e com razão, tem que ter medo mesmo! Você não sabe de onde veio, não sabe pra onde vai, não sabe por que está aqui, de vez em quando você tem uns insights mais ou menos leve, mas você nunca sabe se eles são verdadeiros, você se agarra a algumas coisas para conseguir chegar da hora que você acorda até a hora em que dorme; e com o passar do tempo você vai percebendo que isso vai ficando cada vez pior, então... Há motivos suficientes pra ter medo.
Ernest Becker em seu livro “A negação da morte” usa o termo “Mentira Caracterológica”, em que discorre assim:
“A gente deve gastar energias psíquicas monstruosas, para conseguir viver a cada dia não sendo atormentado pela consciência que a gente têm, de que a qualquer momento pode dar errado”.
Só que Ernest Becker diz que esta energia, deve operar no fundo de nosso psiquismo, e a gente deve ter um mecanismo pra manter a estrutura funcionando, pra garantir que esta consciência não venha à tona, por que se essa consciência vier à tona, provavelmente você não vai conseguir fazer frente a sua demanda de sobrevivência. Você vai ficar paralisado diante deste pânico, ou seja, grosso modo falando, quem mente melhor sobrevive, quem fica paralisado diante do terror da existência, sucumbe.
Somos um animal que não fabrica veneno, a gente não consegue voar, a gente não consegue morder um bicho com os dentes, você tem um tamanho desengonçado, você não enxerga direito, não ouve bem, ou seja, tudo que você tem é pensar, pensar é seu grande barato, compreender o mundo, tirar conclusões, e é justamente estas conclusões, e a capacidade que você tem de articular idéias, e perceber causa e efeito, é justamente este movimento que leva você a consciência que se transforma no pânico. Você consegue enxergar la na frente, que você não vai dar certo.
É um paradoxo, carregamos um predador dentro de nós, somos um animal que tem mais consciência do que devia, mas um animal que justamente por ter mais consciência do que devia, é que ele conseguiu se adaptar, nosso grande instrumento de sobrevivência é o que mais nos corrói inconscientemente, temos consciência, porém temos medo.
Você só cresce e vira gente quando você toma consciência que você já perdeu e assume sentir medo, enquanto você não tiver esta consciência você não está de fato no mundo.
Por isso que nós admiramos os heróis, por que no fundo as pessoas sonham em serem heróis, e tem uma coisa que é fato...
Por mais mentiroso que a gente seja, todo mundo sabe reconhecer alguém que esta tendo coragem, você pode nem dizer a pessoa para não deixar ela com o ego do tamanho de um trem, ou pra não deixar o seu do tamanho de um amendoim (risos). Você pode até não reconhecer, mas no fundo, todo mundo sabe reconhecer que esta diante de alguém que é corajoso, e quando falamos de coragem, não estamos falando de enfrentar leões, enfrentar exércitos russos, estamos falando de coragem de enfrentar a vida, de heroísmo cotidiano, e uma coisa característica do heroísmo, é que:
A experiência fundamental do heroísmo não pede platéia, o herói que quer ser herói para que as pessoas saibam que ele é herói, na realidade não e um herói, ele é um narcisista.
Tem uma cena no filme “Sete vidas”, em que o personagem Ben (Will Smith) é questionado por um senhor que vai receber sua medula óssea, ele diz:
- Mas Ben! Por que eu?
Ben responde:
- Por que você é uma pessoa boa.
O senhor insiste:
- É serio Ben!
Ben conclui:
- Você é uma pessoa boa, mesmo quando não estão te olhando.
O desejo esta intimamente ligada ao medo, por que o desejo é um cavalo desenfreado, e como tudo que foge ao nosso controle, conseqüentemente causa medo. O desejo tem duas formas de humilhar você, a primeira é nunca deixar você chegar naquilo que quer, a segunda é deixar você chegar naquilo que quer.
É inteligente ter medo, só que ao mesmo tempo, por alguma razão a gente sonha em não ter medo, e a gente admira quem não tem medo; e esta idéia de não querer ter medo nos coloca na condição de Deuses, ainda assim somos um Deus amarrado a um corpo que apodrece.
O medo não é uma coisa que acontece com você, não e uma coisa que entra por uma brecha na sua alma, ele sempre esteve ali, ele é parte de sua alma, por que a alma tem medo; e por que tem medo?
Por que ela sabe mais que deve, mas nunca vai saber tudo que precisa; por isso nós nunca vamos deixar de ter medo.
A gente não se livra do medo, a gente simplesmente aprende a lidar com ele.

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