segunda-feira, 27 de junho de 2011

Estou morrendo...

Há 4 anos atrás quando eu comecei a fazer psicologia, as pessoas me perguntavam  quantos anos o curso durava; quando eu falava que eram 5 anos, o final da minha resposta era quase sempre rompido com um NOSSA.  
No inicio eu também pensava, nossa... 5 anos?! Ao final deles, vou ter viajado 66.000 quilômetros, vou ter investido na faculdade mais ou menos R$ 70,000 reais, e terei passado mais tempo com meus amigos, do que com minha própria família.
Meu amigo Bruno Silva, recém iniciado no curso de psicologia me fez a seguinte pergunta há uns meses atrás:
- Lucas! Você já pensou em desistir de fazer psicologia?
Aparentemente é uma pergunta simples de responder, naquele momento cheguei a dar uma resposta para ele, mas aquela pergunta ficou ecoando na minha cabeça, e depois eu cheguei a responder ela a mim mesmo.
Primeiro que quando você entra na faculdade infelizmente a torcida contra é maior do que a favor; você ouve algumas pessoas falarem:
- Trabalhar de dia e estudar a noite? Não dou um mês para ele parar a faculdade, ele não vai agüentar.
Sem problema, você passa por isso facilmente, seis meses depois não contente surgem mais comentários:
- Bom... Ele até pode ter agüentado seis meses, mas quero ver se vai tirar boas notas. Ai você vai e tira boas notas.
Os desafios vão aumentando, o tempo vai passando, e você vai sobrevivendo a tudo isso, e vai percebendo que você era bem mais forte do que imaginava.
As vezes eu me pego pensando:
- Mas pra que tudo isso? Será que vai valer a pena cada “sofrimento”?
Segundo meu tio, um curso universitário, só serve para se um dia você for pego dirigindo embriagado, garantir a você uma cela especial. (risos)
Mas voltando a pergunta; tudo isso vale a pena?
Pensando bem... SIM!
Quase 4 anos se passaram e já começo a sentir um ar de nostalgia nas relações com as coisas e as pessoas. E mesmo contra minha vontade, começo a sentir que esta fase da minha vida está chegando ao fim.
É uma sensação muito estranha, acho que só experimentada por pessoas que infelizmente descobrem que vão morrer, você começa a fazer e falar coisas como se fosse a ultima vez. O Professor Ângelo Missura sempre faz essa analogia com nossos desafios, segundo ele a vida é feita de fases, para começar uma, é preciso morrer para outra, desconstruir para construir. É assim que eu me sinto nestes últimos anos de faculdade, morrendo cada dia mais, com a certeza que no final vai estar nascendo uma nova pessoa, um novo sonho, um sonho de criança.
Eu sinto que o contato com meus amigos, pelo menos pra mim, esta cada vez mais intenso. Daqui um pouco mais de um ano, pessoas que eu convivo todos os dias pelo menos 200 dias por ano, simplesmente vão seguir suas vidas, e eu tenho certeza de uma coisa, vou sofrer muito, mas muito, com a ida de algumas dessas pessoas.
É inevitável, não tem como não criar vínculos, e é por isso que eu estou me permitindo apaixonar ainda mais por elas.
Eu jamais vou esquecer de cada dia de chuva, dias de cansaço extremo, e quando falo de cansaço extremo, é por que é extremo mesmo, dias de frio, dias em que sono era muito mais forte que você, e acabava te vencendo dentro da sala de aula, dias que você queria que tivesse 50 horas, para você dar conta de tantos relatórios, trabalhos, e ainda ter 5 minutos para poder fazer algumas perguntas banais tipo:
- Mãe? Como você esta?
- Pai, será que vai dar pra assistirmos Palmeiras X Corinthians no domingo?
Enfim, eu jamais vou esquecer de cada minuto que eu me dediquei a psicologia; e quando todos tiverem seguido seus destinos, ou vou pensar...
- Um dia, eu fiz parte da vida de cada um deles.

domingo, 26 de junho de 2011

Um dia a gente aprende...

 Depois de algum tempo, você aprende a diferença, a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la, por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, contudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto... Plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!”
William Shakespeare

quinta-feira, 23 de junho de 2011

As três feridas narcísicas

Três grandes acontecimentos marcaram o ego humano de tal forma que foram considerados as três feridas narcísicas da humanidade.


O primeiro grande golpe veio com Nicolau Copérnico, quando o mesmo afirmou não sermos o centro do Universo. Antes disso a teoria hegemônica que dominava a sociedade era a do geocêntrismo, que tinha como pressuposto a terra como centro do universo. Porém éramos meros coadjuvantes que brincavam no carrossel do Sol.
Ai você pode pensar:
- Sem problema, isso foi em 1543, já se passaram 468 anos.


Se não estávamos no papel principal da peça universal, nos restava ainda gozar da condição de filhos de Deus. Mas Darwin, ao descobrir o evolucionismo, nos legou a condição de mero produto do acaso. Não somos seres especialmente criados, mas apenas resultado da evolução natural dos seres.
- Mas como? E aquela estória que minha avó contava sobre Deus ter feito um bonequinho de barro a quem ele chamou de homem; e depois de feito isso ele tirou uma costela desse homem, e fez uma mulher, isso era... Mentira?
- Pois é... Sim, te enganaram!
Alguns jornais da época chegaram a publicar:
Charles Darwin matou Deus”



A despeito disso tudo, quisemos reivindicar, como última esperança, a racionalidade exclusiva da nossa espécie. E então, Freud nos deu o derradeiro golpe que nos faz sangrar até hoje. Não somos sequer senhores de nós mesmos. A consciência é a menor parcela de nossa vida psíquica.
Em seu exemplo mais clássico, Freud tentou explicar o aparelho psíquico da seguinte forma:
- Pense num grande iceberg, seu vértice é a menor parte dele, portanto a parte que você tem acesso, sua consciência. Sua maior parte, esta submersa; é o seu inconsciente, e vou te contar um segredo... VOCÊ NÃO TEM ACESSO A ELE, NEM QUE VOCÊ QUEIRA. O inconsciente é o demônio dentro de você.
Bom é isso! Agora que sabem quais são as três adagas que atravessaram nossas almas, você pode fazer duas coisas:
Primeira: - Ficar indiferente como se tivesse assistindo a TV senado, O Datena, Programa do Ratinho ou Super Pop. (risos)
Segunda: - Pensar que agora sua intelectualidade aumentou um pouquinho, e que algumas pessoas talvez tenham mentido para você, mas o que importa é que agora você sabe a verdade.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Sentido da vida segundo eu e meus amigos loucos...

O mais legal em fazer psicologia, são as conversas e discutições com alguns amigos. Estes dias estava eu e mais dois amigos meus, quando surgiu entre nós a seguinte pergunta:
Qual o sentido da vida?
Eu logo pensei, nem os maiores filósofos e teóricos do mundo conseguiram responder esta pergunta, não seremos nós que iremos conseguir. Mas desde Platão, Aristóteles e outros de seus amiguinhos “burros”, vemos que o que move o mundo não são as respostas e sim as perguntas; deve ser por isso que me interessei tanto por psicologia, por saber que talvez algumas perguntas eu morrerei sem saber as respostas. Ter resposta pra tudo é muito chato! Cá entre nós, quem nunca almejou tanto, mas tanto alguma coisa, e quando conseguiu você parou e pensou: - Nossa... é isso? E agora? Enquanto a busca da conquista estava em andamento, era a coisa mais fascinante do mundo, mas depois se tornou trivial.
Mas afinal de contas, qual o sentido da vida?
É inevitável responder esta pergunta, sem antes fazer outras varias, inclusive, isso deve ser mal de psicólogo, sempre que sou questionado a respeito de algo, eu geralmente faço outras milhares de pergunta para quem me perguntou, uma amiga me chamou atenção a respeito disso estes dias:
- Lucas, será que daria pra você responder minha pergunta sem fazer outras porções delas? (risos). Enfim.
Junto a pergunta de qual o sentido da vida, questionamos também o seguinte:
O que acontece antes de nascermos?
Depois que morremos, pra onde vamos?
E como se dá os acontecimentos em nossas vidas? (nascer, morrer, se apaixonar, etc.)
A discussão começou logo pela pergunta mais complexa, o que acontece antes de nascermos...?
Eu logo disse:
- Nada! Segundo as teorias mais conhecidas, nosso corpo em determinado momento se torna matéria, antes disso porém, não somos nada. Meus amigos pensaram um pouco mais, só que não tem muito a se discutir, ninguém nunca vai saber a verdade a respeito disso.
E como se dá os acontecimentos em nossas vidas? (nascer, morrer, se apaixonar, etc.)
Quem nunca se apaixonou e quando terminou você parou e pensou:
- Será que se eu tivesse feito algo diferente as coisas poderiam ter dado certo? Teria sido diferente?
Quando o relacionamento da certo as questões já são outras:
- Como ela foi aparecer na minha?
 Quando alguém que amamos morre, é inevitável pensarmos o seguinte:
- Mas por que ela? Existem tantas pessoas más no mundo, por que tinha que ser ela?
Ou ainda quando alguém muito jovem morre, ficamos sem entender, e logo lançamos sobre a situação juízos de valor do tipo: mas por que ele e não um senhor, ou qualquer outra pessoa no mundo... Menos ela.
Como acontece isso?
Alguém que esteja lendo isso sabe?
Meus amigos e eu depois de pensarmos muito e termos falado um bocado, não vimos outra lógica a não ser a ausência dela, ou seja, estes acontecimentos se dão de forma aleatória, não existe critério nenhum para estes acontecimentos, qualquer um de nós pobres mortais estamos sujeitos a, por exemplo; perder o melhor amigo para um acidente de carro, ou o oposto disso, a encontrar o amor da sua vida na fila da padaria, quando você se oferece a dar os R$ 0.10 centavos que faltaram para comprar os 5 pães (risos).
E depois que morremos? Pra onde vamos?
Para Albert Einstein, o frio na verdade, não é nada mais nada menos, que ausência de calor. Logo pensamos:
- Oras! Não poderíamos também pensar que depois que morrermos estaremos apenas... Mortos? Ou melhor, não vivos?
A resposta até que era legal, mas muito vaga, sem argumentos, desse jeito tudo na vida seria simplesmente explicado segundo que uma coisa seria sempre a ausência de outra coisa, muito pobre. Continuamos nossos pensamentos na busca por repostas.
Existe no mundo no mínimo umas 30 teorias pra onde vamos depois que morrermos, a mais conhecida delas talvez seja a mais confortadora:
Depois que morrermos, iremos para um lugar com um campo muito grande, onde existem árvores, e flores, e todas as pessoas que um dia nos deixamos na terra, nós encontrarão novamente.
A verdade é que não dá pra saber pra onde iremos, da onde viemos, se vamos nos apaixonar ou não; a única coisa que esta ao nosso alcance fazer é... VIVER A VIDA, da forma mais plena possível, e sempre que for possível... Se colocar a disposição do próximo, não existe forma mais linda de se alcançar a imortalidade.
Esse talvez seja o sentido da vida...
... Segundo eu e meus amigos! Risos

sábado, 18 de junho de 2011

Clareou

Não sei bem ao certo se pensar no próximo são peculiaridades atribuídas única e exclusivamente a psicólogos e aspirantes a. Eu só sei que desde que comecei a fazer psicologia, eu não faço outra coisa a não ser pensar no próximo, e como isso é difícil.
Pessoas com este dom sofrem um bocado, mas pensando bem... Seria mesmo um sofrimento? é que partimos do principio que por mais que você ame uma pessoa, é só uma questão de tempo, mas ela irá, num determinado momento te magoar, e pior... Ou melhor? Você vai ter que perdoá-la. Por esse motivo às vezes, é inevitável pensar que estamos sozinhos, que não existe mais ninguém no mundo que seja o mínimo parecido contigo, pelo menos para te fazer sentir menos idiota, para fazer você pensar:
- Olha que legal! Eu não sou o único.
Eu estava quase me convencendo de que realmente caminhava só, que pensar nos outros é doentio, decrépito, e que o amor não existe mais, eis que como um anjo... Aparece Clara.
E o grande barato desta estória é que seu nome tem tudo haver com o que ela fez comigo, Clara Clareou os meus dias.
É engraçado pensar como muitas pessoas fazem bem as outras, mas muitas delas nem sabem que o fez, Clara talvez não saiba o bem que ela me fez.
Ela devolveu a esperança que estava me faltando; encontrar uma pessoa que anda na contra mão assim como eu é difícil, principalmente nos dias de hoje, falar de amor é démodé, bom é falar de sexo, discutir problemas sociais é nadar contra a maré, melhor falar de futebol, cobrar do governo é ser um revolucionário de esquerda, bom mesmo é assistir a novela das nove, assistir o Datena, por que não precisa pensar as opiniões já vem formada.
Clara tem todas as qualidades de uma completa “idiota”... Ainda bem, o mundo precisa de idiotas como ela, e dentre os vários parabéns que já recebi, pela primeira vez recebi um parabéns dela por eu também ser um idiota, numa sociedade em que tem como padrão, sexo, futebol e novela das nove o que foge deste padrão é considerado anormal, “idiota”.
Obrigado Clara por me fazer acreditar de novo, seremos sempre idiotas, mas idiotas que lutam pela causa.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O melhor da terapia "Luiz Fernando Veríssimo"

O melhor da Terapia é ficar observando os meus colegas loucos. Existem dois tipos de loucos: O louco propriamente dito e o que cuida do louco - o analista, o terapeuta, o psicólogo e o psiquiatra. Sim, somente um louco pode se dispor a ouvir a loucura de seis ou sete outros loucos todos os dias, meses, anos. Se não era louco, ficou. Durante quarenta anos, passei longe deles. Pronto, acabei diante de um louco, contando as minhas loucuras acumuladas. Confesso, como louco confesso, que estou adorando estar louco semanal. 
O melhor da terapia é chegar antes, alguns minutos e ficar observando os meus colegas loucos na sala de espera. Onde faço a minha terapia é uma casa grande com oito loucos analistas. Portanto, a sala de espera sempre tem três ou quatro ali, ansiosos, pensando na loucura que vão dizer daqui há pouco. 
Ninguém olha para ninguém. O silencio é uma loucura. E eu, como escritor, adoro observar pessoas, imaginar os nomes, a profissão, quantos filhos têm, se são rotarianos ou leoninos, corintianos ou palmeirenses.
Acho que todo escritor gosta desse brinquedo, no mínimo, criativo. E a sala de espera de um "consultório médico", como diz a atendente absolutamente normal (apenas uma pessoa normal lê tanto Paulo Coelho como ela), é um prato cheio para um louco escritor como eu.
Senão, vejamos:
 Na última quarta-feira, estávamos:
1. Eu
2. Um crioulinho muito bem vestido,
3. Um senhor de uns cinqüenta anos e
4. Uma velha gorda.
Comecei, é claro, imediatamente a imaginar qual seria o problema de cada um deles. Não foi difícil, porque eu já partia do principio que todos eram loucos, como eu. Senão, não estariam ali, tão cabisbaixos e ensimesmados.
(2) O pretinho, por exemplo. Claro que a cor, num país racista como o nosso, deve ter contribuído muito para levá-lo até aquela poltrona de vime. Deve gostar de uma branca, e os pais dela não aprovam o namoro e não conseguiu entrar como sócio da “Harmonia do Samba".
Notei que o tênis estava um pouco velho. Problema de ascensão social, com certeza. O olhar dele era triste, cansado. Comecei a ficar com pena dele. Depois notei que ele trazia uma mala. Podia ser o corpo da namorada esquartejada lá dentro. Talvez apenas a cabeça. Devia ser um assassino, ou suicida, no mínimo. Podia ter também uma arma lá dentro. Podia ser perigoso. Afastei-me um pouco dele no sofá. Ele dava olhadas furtivas para dentro da mala assassina.
(3) E o senhor de terno preto, gravata, meias e sapatos também pretos? Como ele estava sofrendo, coitado. Ele disfarçava, mas notei que tinha um pequeno tique no olho esquerdo. Corno, na certa. E manso. Corno manso sempre tem tiques. Já notaram? Observo as mãos. Roía as unhas. Insegurança total, medo de viver. Filho drogado? Bem provável. Como era infeliz esse meu personagem. Uma hora tirou o lenço e eu já estava esperando as lágrimas quando ele assoou o nariz violentamente, Interrompendo o Paulo Coelho da outra. Faltava um botão na camisa. Claro, abandonado pela esposa. Devia morar num flat, pagar caro, devia ter dívidas astronômicas. Homossexual? Acho que não. Ninguém beijaria um homem com um bigode daqueles. Tingido. 
(4) Mas a melhor, a mais doida, era a louca gorda e baixinha. Que bunda imensa. Como sofria, meu Deus. Bastava olhar no rosto dela. Não devia fazer amor há mais de trinta anos. Será que se masturbaria? Será que era esse o problema dela? Uma velha masturbadora?
Não! Tirou um terço da bolsa e começou a rezar. Meu Deus, o caso é mais grave do que eu pensava. Estava no quinto cigarro em dez minutos. Tensa. Coitada. O que deve ser dos filhos dela? Acho que os filhos não comem a macarronada dela há dezenas e dezenas de domingos. Tinha cara também de quem mentia para o analista. Minha mãe rezaria uma Salve-Rainha por ela, se a conhecesse. 
Acabou o meu tempo. Tenho que ir conversar com o meu psicanalista.
Conto para ele a minha "viagem" na sala de espera.
Ele ri ... Ri muito, o meu psicanalista, e diz: 
- O Ditinho é o nosso office-boy.
- O de terno preto é representante de um laboratório multinacional de remédios lá no Ipiranga e passa aqui uma vez por mês com as novidades. 
- E a gordinha é a Dona Dirce, a minha mãe.
- E você, não vai ter alta tão cedo...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Há metafísica bastante em não pensar em nada

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso
 Que idéia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre Deus e a alma?
E sobre a criação do mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos e não pensar. É correr as cortinas
da minha janela (mas ela não tem cortinas).
 O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos, começa a não saber o que é o sol, e a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol, e já não pode pensar em nada, porque a luz do sol vale mais que os pensamentos de todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz, e por isso não erra e é comum e boa.
 Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos e a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar, a nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas, que é a de não saber para que vivem nem saber que o não sabem?
"Constituição íntima das coisas"...
"Sentido íntimo do universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em uma coisas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores, um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das coisas é acrescentado, é como pensar na saúde ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das coisas é elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele, sem dúvida que viria falar comigo e entraria pela minha porta dentro dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos de quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
não compreende quem fala delas, com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores e os montes e sol e o luar, então acredito nele, então acredito nele a toda a hora, e a minha vida é toda uma oração e uma missa, e uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores e os montes e o luar e o sol, para que lhe chamo eu de Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; porque, se ele se fez, para eu o ver, sol e luar e flores e árvores e montes, se ele me aparece como sendo árvores e montes e luar e sol e flores, é que ele quer que eu o conheça como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe, (Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, como quem abre os olhos e vê, e chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, e amo-o sem pensar nele, e penso-o vendo e ouvindo, e ando com ele a toda a hora.

domingo, 5 de junho de 2011

Quem eu sou...

Eu sou eu, sou você, sou eu e você.
Adivinho coisas que nem saberia explicar que existem.
Alimento-me da vida alheia num organismo simbiótico que coordena minhas ações.
Sou imoral diante da moralidade atual.
Ativista social e político em tempo integral.
Sou chato, inconveniente, que reclama e que deixa as pessoas constrangidas em minha presença.
Minha vida é um laboratório, estou em fase de experimentações.
Sou hibrido feito do cruzamento de varias culturas e pensamentos diferentes.
Sou um átomo... Pequeno, indivisível, homogêneo e às vezes invisível.
Acho que ficar triste é um sentimento tão legitimo quanto à alegria, reclamar do tédio é fácil, difícil é levantar da cadeira e fazer alguma coisa que nunca foi feita.
Queria não me sentir tão responsável pelo que acontece ao meu redor.
Felicidade é a combinação de sorte com escolhas bem feitas.
Pessoas com vidas interessantes interessam-se por gente que é o oposto delas.
Emoção nenhuma é banal se for autêntica.
Dar certo não esta relacionado ao ponto de chegada, mas ao durante.
O prazer esta na invenção da própria alegria, por que é do erro que surgem novas soluções, os desacertos nos movimentam, nos humanizam, nos aproximam dos outros.
Enquanto o sujeito nota 10 nem consegue olhar pro lado sob pena de ver seu mundo cair.
O mundo já caiu, só nos resta dançar sobre os destroços.
Nosso maior inimigo é... A falta de humor.
Sou dotado da maravilhosa capacidade de contemplar repetidas vezes, de modo renovado e até mesmo ingênuo, as coisas simples da vida, com admiração, prazer, surpresa e ate êxtase, mesmo que as outras pessoas vejam essas experiências como corriqueiras. Pra mim qualquer pôr-do-sol é tão belo quanto o primeiro testemunhado.
Tenho pelas pessoas um profundo sentimento de identificação, compaixão e afeto, apesar de ocasionais raiva, impaciência ou repugnância, por esse motivo tenho um verdadeiro desejo de contribuir com a raça humana.
Às vezes sinto-me um forasteiro em uma terra de estranhos, me sinto aflito, amargurado e até mesmo irado com as limitações dos indivíduos medianos.
Não importa o qual distante as pessoas sejam de mim, eu nutro um sentimento subjacente básico de bondade por essas criaturas com as quais eu me preocupo, e a minha felicidade depende da delas.

Para os anjos Roberta e Ludmila

Sempre que se fala em amigos, é difícil achar palavras para descrever o quanto eles significam para nós, portanto eu não seria o primeiro a conseguir esta façanha. Mas eu prometo que vou tentar chegar o mais perto disso o possível.
Sabe aquelas pessoas que pelo simples fato de existirem já fazem as outras felizes? Aquela pessoa que é capaz de sentar ao seu lado, te ouvir por horas, não entender porra nenhuma... mas te ouvir? Aquela pessoa que mesmo depois de um dia inteiro de coisas dando errado, ela consegue tirar uma boa risada para esquecer tudo? Aquela pessoa que te olha nos olhos é você sente que aquele olhar vai alem de você, ele te atravessa? Aquela pessoa que ri de tudo com você, e quando falo tudo, é tudo mesmo... desde falowsssssssssss até piriri?
Todos nós já tivemos, de uma maneira ou de outra, experiências difíceis na vida. Isto faz parte de nossa viagem por esta Terra , e embora muitas vezes pensamos que “as coisas podiam ter acontecido de outra maneira” o fato é que não podemos mudar nosso passado.
Por outro lado, é uma mentira pensar que tudo que nos acontece tem o seu lado bom; existem coisas que deixam marcas muito difíceis de superar, feridas que sangram muito.
Como, então, nos livrarmos de nossas experiências amargas?
Só existe uma maneira: vivendo o presente. Entendendo que, embora não possamos mudar o passado, podemos mudar a próxima hora, o que acontecerá durante à tarde, as decisões a serem tomadas antes de dormir.
Por isso este post vai especialmente para Robertinha (graças a ela vocês estão podendo ler isso), foi ela a grande incentivadora de abrir o blog.
E também para a Lud, que de tão parecida comigo, às vezes me sinto falando comigo mesmo.
Se é que existe uma palavra que defina amigos, eu ousaria dizer que esta palavra é INCONDICIONAL. Somente o amor incondicional é capaz de fazer com que amizades durem para tanto tempo, ou melhor... pelo resto da vida.
Muito obrigado por vocês fazerem parte da minha, vocês iluminam todos os meus dias
Como diz o velho provérbio hippie: “hoje é o primeiro dia do resto da minha vida”.
Eu amo vocês Roberta e Ludmila.

sábado, 4 de junho de 2011

E se eu fosse eu?

“Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase “se eu fosse eu”, que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.
E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida.
Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.
Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia.
E se eu fosse eu daria tudo que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.
“Se eu fosse eu” parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova do desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas a primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo.
E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. “Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.”
Clarisse Lispector

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Preconceito

A representação social é uma produção coletiva que tem como uma de suas dimensões a atitude ou orientação geral de grupos em relação ao objeto da representação.
Por sua vez, "o racismo, além de conveniente enquanto legitimação da dominação do branco sobre indivíduos de cor e de ricos sobre pobres é um mecanismo através do qual uma sociedade fundamentalmente desigual, mas baseada numa ideologia fundamentalmente igualitária, racionaliza as suas desigualdades. Para isso, a ciência, o trunfo do liberalismo, veio para provar que os homens não são iguais."
 Nesse contexto, o preconceito racial e a violência que o acompanha são predominantemente manifestação da lógica que rege as relações sociais em sociedades profundamente desiguais e hierarquizadas.